Clave de sol (literalmente)

Clave de sol (literalmente)

sábado, 24 de março de 2012

Queria só um pouco de paz, mas às vezes esqueço que paz não é presente. Paz é conquista. Ainda chego lá, afinal eu estou buscando. "Quem acredita sempre alcança" não é assim?
O tempo é mesmo cruel e impiedoso. Passa rápido demais, sem perdão. Mas se a gente entender o tempo direito vai ver que ele é generoso. Ele preserva o que tem valor, mantém junto mesmo aqueles que a distância separou, o tempo nos fortalece.

Mais uma vez, Maria

Toda história para crianças, ou conto de fadas, ou quase todas as histórias começam assim: Era uma vez... Mas vou contar pra vocês uma história que começa assim, diferente:

 Era mais uma vez a mesma história de sempre, a menininha de bochechas rosadinhas, sentia que em nada se parecia com as meninas vizinhas de quarto, com nenhuma outra menina que ali havia ela se parecia, mas não de aparência, apesar de ser única nisso também. Ela não se parecia com as outras, mas era de um outro jeito. Nossa menina se chamava Maria, nome dado pelas Irmãs do orfanato, que a encontraram numa manhã gelada de inverno, dentro de uma cestinha na porta de entrada. Era bem pequenina e tinha as bochechas bem coradinhas, dentro do cesto onde estava, só havia uma manta rosinha e um travesseirinho, mais nada. Pois bem, ali ela foi acolhida e ali ficou, e cresceu. Mas continuou pequenina pras meninas de sua idade, usava sempre trançinhas, duas delas, uma de cada lado da cabeça e não admitia que lhe mudassem o penteado. Uma vez se escondeu por dois dias, até ser encontrada, só porque não queria cortar os cabelos. Apesar de rebelde era tão doce e sensível que ninguém conseguia ficar bravo com ela por muito tempo. Fazia arte o tempo todo, mas era do bem, engraçada, apenas mudava a rotina do lugar, nunca por maldade ela agia, ao contrário, tinha um senso de justiça aguçado demais. Sabia sem saber como sabia, que se fosse malvada, falsa consigo mesma ou com os outros...   de um jeito ou de outro teria que prestar contas disso um dia. Então ser boa e honesta para ela era coisa muito natural.  Ela não tinha ninguém, não se sabia nada de sua família, nossa Maria era sozinha e não sabia nem de onde vinha. Foi deixada apenas, sem bilhete, só com a mantinha rosinha na porta do Orfanato de Maria, esse era o nome do lugar.  Durante todos os anos que se seguiram e conforme crescia Maria, as Irmãs lhe diziam: Um dia uma boa família te levará daqui e feliz pra toda vida você será, era o que sempre ouvia Maria naquelas tardes de sábado quando tinha visita no Orfanato. Nisso talvez, ela até se sentisse, mas só de vez em quando, igual às outras.  Também queria ter uma família que a amasse, não que lhe faltasse amor, porque grata demais sempre fôra a nossa Maria, sempre agradecia em oração, não sabia direito pra quem, porque ela achava que Deus era diferente do que ensinavam nas aulas de religião do colégio, para Maria Deus era um cara muito amoroso e compreensível que conseguia ver a gente por dentro, tinha certeza de era ouvida, e ponto.  Mas, que pena, ninguém a escolhia naqueles sábados.  Será porquê se sentia diferente e todo mundo percebia, sem precisar dizer? Queria ser normal, acreditar em tudo que diziam pra ela, mas sempre via além, não conseguia se conter, e desde o dia em que resolveu pensar em tudo, nada mais ficou fácil de descer pela goela abaixo de Maria. Para ela tudo tinha um porquê, o duro é que nem sempre respondiam as suas perguntas e ela ficava sem saber, mas nem por isso desistia e perguntava tudo que podia e duvidava quase sempre. Tinha ela um dom, não se sabia direito qual. Deixava confusa a professora, desorientada a orientadora, pessimista o psicanalista e de cabelos ouriçados a Madre Superior!  E enquanto todas as meninas esperavam ser aceitas, vestindo o melhor vestidindo, nossa Maria só fazia um desenho diferente a cada sábado, era uma artista Maria, fato, disso ninguém duvidava, e talvez como todo artista fosse talvez um pouco incompreendida. Gostava das imagens e abusava sempre das palavras, rimava feito louca, essa era a sua defesa por se sentir tão pequena e sozinha, mas isso era segredo dela. Pois como Maria não havia, era corajosa demais, grande demais pro seu tamanho reduzido, possuía o artifício de ficar maior quando queria, impostava a voz de uma maneira, que longe a ouviam, mas sem gritar. Ela jurava que só quem pudesse entender seus desenhos e responder suas perguntas, seria capaz de aturá-la uma vida inteira. E todo sábado era a mesma coisa, mãe pra ela não tinha. E Maria ia ficando, cada vez mais moça, cada vez mais pro canto, cada vez mais sozinha, começou a fazer poesias... Quase todas as outras iam embora um dia. Meninas especiais, precisam de mães especiais disso sabia Maria, então de esperança no coração ela se enchia todos os domingos. Não desanimava nem vitima se sentia só sonhava a doce Maria, isso ela sempre fazia, nunca deixou de sonhar! Há de haver nesse mundo uma alma que acolha a minha. O tempo passou e Maria cresceu, era ela mais mãe compreensiva e amiga das outras meninas que chegavam e iam, do que uma órfã. Então refletindo, pensando como sempre fazia, Maria percebeu que talvez seu papel fosse esse e aceitou de bom grado o que seu dom lhe permitia ser, simplesmente. E assim foi por muito tempo... Incompreendida, amada e também invejada nossa menina de trançinhas, a Maria. Até que num belo dia que não foi sábado, apareceu no Orfanato uma Trupe de Artistas de Circo para fazer um espetáculo para as meninas dali. A Madre não gostou muito da idéia, mas com custo foi convencida de que seria bom. Maria no auge de seus dezesseis anos, animou-se tanto com aquilo, os olhinhos brilhando.... Ajudou à todos em tudo o que podia, como sempre fazia se desdobrou... e na hora do show até chorou de emoção! Nunca na vida, depois de tantos anos, havia ela experimentado tamanha felicidade,  nem quando defendia as outras de castigos injustos, apanhando no lugar das mais fracas, brigando por ideias que ninguém nunca acreditou, nem assim sendo tão necessária e por conseqüência feliz, nunca em momento algum, ela se sentiu assim tão acompanhada, completa e feliz, como naquele mágico momento. Era como se estivesse enfim inteira, mesmo sem saber de onde vinha, como se de nada mais precisasse além de existir e poder ver, sentir, experimentar. Olhava quase sem acreditar para os artistas se espalhando pelo palco, falando sem errar suas falas, gesticulando, fazendo sorrir e chorar ao mesmo tempo, toda uma platéia envolvida...  Naquele dia ela encontrou sua mãe, sua mãe era a Arte! Então a partir desse dia, as notícias que se tem de Maria são histórias, cada dia num canto, cada hora um encanto, muitas luas, alguns prantos, saudades e alegrias das bastantes, amor sempre, a todo instante, amor em cada palavra, dita ou escrita, amor sempre. O fato é que ela vai bem com sua Trupe, muito bem, obrigada. Viajando mundo afora, levando a alegria pra quem não tem quase nada, levando a esperança onde só se via a injustiça. Porque pra Maria não importa saber de onde viemos, o importante é saber quem nós somos e para quê viemos.  Maria é só a menina que se achou, descobriu a VIDA além da aspereza, viu beleza na dor, chorou na noite escura, mas viu o sol nascer várias vezes.... virou mulher, sem nenhuma amargura. Ela não é mais sozinha, Maria agora tem uma grande família.

Giza Calu


quarta-feira, 14 de março de 2012

terça-feira, 6 de março de 2012

Nem que não seja pra sempre

Neste momento me contento em deitar no teu peito somente, sem maiores esclarecimentos, pois não cabem neste nosso contexto, talvez não seja devido. Quero então esquecer todo o resto e qualquer receio. Tudo é tão novo e recente e no entanto tão velho ao mesmo tempo, conhecido sentimento que estava esquecido lá no fundo de tudo que já foi vivido, ou talvez interrompido pelo medo, não sei. A mim basta agora, querer e mais nada, não há o tal profundamente, existe apenas o incoerente desejo, o desejo de viver simplesmente e  ao seu lado, intensamente, mesmo que não seja assim pra sempre.

O plano

Hoje eu procurei num estranho, o que só encontrava em você. Hoje eu chorei, foi estranho, o meu plano era te esquecer de vez... Percebi que não seria assim. Então fui lá pra bem longe e vi no céu estrelas dançando, mudando de lugar volta e meia e caindo. Vi tudo acontecer tão depressa...Mas no fundo tudo o que consegui e no entanto, foi entender que  a saudade já era deste tamanho! A vontade de te rever era grande, mesmo assim eu saí mundo afora, não fazia sentido meu querer, já era passado... Então abri os olhos e vi tudo o que nem imaginava existir, vi tudo o que se podia ver, e jurei que dor nenhuma mais me faria refém, e foi nessa hora que mandei ir embora a dor da sua ausência, com todas as forças que tinha eu jurei que jamais sofreria tua falta outra vez... E eu quis mesmo  te esquecer, me esforcei, por muitas vezes acreditei ter vencido, vi os balões coloridos no céu desaparecer, vi o impossível acontecer, deixei a paixão renascer nos olhos de outro alguém, me deixei vencer, me dei por vencida pra conseguir vencer de vez a insensatez de querer o que há muito já não era mais meu. Senti o frio me congelar e deixei o sol me derreter, vi tanta gente passando, se abraçando, vi tanta gente a sorrir e se beijar, vi o bem se manifestar de tantas formas, que me distraí sem ver  o tempo passar.. Quando dei por mim, eu era ali e sozinha, só vendo o tempo passar, olhando pro tempo como se não houvesse mais tempo pra mim, uma vez mais, vendo o tempo, esse  mesmo tempo que trouxe e levou você de mim...  Engraçado, eu não procuro mais em estranhos, o que eu sinto é grande, é deste tamanho, e não importa se não é mais, eu não sou mais a mesma, nem você é , tudo mudou, ainda bem. Tudo que começa quem sabe um dia tem fim.